sexta-feira, junho 21

Recomeça… - Miguel Torga


Recomeça…
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

Miguel Torga, Diário XIII

sexta-feira, junho 14

Pois estou aqui, apertado na vontade de ver-te novamente e sentir-te perto de mim.
Ter-te aqui quando estou prestes a mergulhar, outra vez, num mar profundo, escuro e frio, quando apenas a tua luz me mostra o caminho para a superfície calma, serena, numa paz imensa, tão grande que torna essa vastidão vazia num lugar pequeno e quente, aconchegado como me sinto no teu coração.

Poder proteger-te, aguentar os embates duros que a vida traz para preservar essa delicadeza que me mantém à tona!
Guardar no peito as balas que podiam separar-nos e guardá-las para me assegurar que não chegam a ti.
Não porque não as conseguisses guardar mas porque basta o teu sorriso em mim para que o peso de suportar esse chumbo no meu peito não faça diferença alguma.

Poder dar-te o aconchego que precisas para perceberes que és mais do que alguma vez imaginaste e os limites para o que consegues alcançar estão guardados acima das nuvens escuras da tempestade, muito acima, por entre as estrelas no céu, onde vou ver-te sempre no meu coração, nesse lugar que é só teu.

quinta-feira, junho 13

Acalma-te, coração sobressaltado...

...que este enorme apego que sentes enlea-se na vontade de ser todo!
Porque quer a Razão batalhar com a vontade do Coração e descobrir, em cada instante, que nada pode senão enlear-se também do tear da desilusão?
Onde está o Amor senão nos truques tecidos pelo palpitar forte e descontrolado de um coração apaixonado?
O Amor que prevalece depois de cosida essa malha de alegria, rompida por uma qualquer palavra bicuda apontada ao peito mole daquele que não quer deixar-te ir.
Amor que segue, obstinado e discreto, no carril desalmado que me encaminha a vontade à de o ser apenas contigo, que dirige um destino junto independentemente daquilo que alguma vez imaginou possível ou concreto.
Um Amor de lágrimas partilhadas nas faces tão juntas que magoam. Mas só a dor na face é que dói. Aquela partilhada pelo coração rapidamente se apazigua com a presença das batidas no peito um do outro, fortes, mostrando que a solidão não existirá e as lágrimas secam num sorriso sob um olhar meigo.

(em construção)